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São Paulo, São Paulo, Brazil
Eu sou feliz! Acordo todos os dias e agradeço por estar viva, por ter saúde, amigos, família, amor e por ter me conhecido. Minhas pernas e meus pés me levam pra onde eu quiser, meus olhos conseguem captar todas as cores e brilhos do mundo,meus ouvidos conseguem ouvir as mais belas músicas e as piores palavras, sinto todos os perfumes e outros aromas nem tão agradáveis, mas sou grata a tudo! Sempre desconfiei de quem eu era, mas só fui apresentada aos 40 anos! Adorei conhecer a pessoa que eu sou e quero que você conheça também. Através das minhas postagens, você vai me conhecer aos poucos. Muito Prazer!

domingo, 27 de novembro de 2011

Pessoal, vejam que graça as caixinhas que carton mousse que estou fazendo.
Ótimo para presentear...










domingo, 30 de outubro de 2011




Pessoal, estas são minhas últimas pinturas.
Amei pintas estas africanas. Em breve voltarei com mais novidades e mais capítulos da minha saga.
A vida anda corrida e sem muito tempo. Preciso me reprogramar...





terça-feira, 20 de setembro de 2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Capítulo V



Uma vez, estávamos fazendo uma expedição na Selva Amazônica (Traduzindo: explorando o terreno baldio no final da rua e que era território proibido pelas mães) e encontramos um poço abandonado e aberto. Quase caímos dentro dele ai tivemos a triste idéia de camuflá-lo com galhos e outras tranqueiras e todos os dias íamos lá pra ver se alguém tinha caído dentro. Certa vez escutamos os miados de um gato preso dentro do poço. Fiquei me sentindo culpada por muitos anos infantis (que duram somente alguns dias), imaginando a angústia do gatinho tentando sair. Um dia uma vizinha fofoqueira nos viu e contou pra minha mãe e tome chineladas.

Como eu já tinha 6 anos e meio e já estava na escola, tinha algumas responsabilidades. Eu podia fazer pequenas tarefas como ir até a padaria, no começo da rua, comprar pão e leite, ou no mercadinho do outro lado da calçada comprar mantimentos. Eu achava o máximo!

Certo dia, eu estava na fila do leite, com a garrafinha na mão (antigamente comprava-se leite em garrafas de vidro ou alumínio) e me deparei com uns confeitos coloridos, lindos! Eles pareciam ovinhos coloridos e eu acabei atiçando cruelmente as lombrigas com aquela visão dos deuses das guloseimas.

Voltei pra casa com o leite na mão e a boca cheia d’agua. Pedi dinheiro pra minha mãe e claro que a resposta foi “Não”. Pedi dinheiro pro meu avô e ele me deu umas moedinhas. Corri pra padaria e pedi no balcão: Moço, me dá tudo isso de ovinhos coloridos.

Ele colocou algumas balas no saquinho e eu corri pra casa pra saborear minhas guloseimas. Quando abri o saquinho, não eram os ovinhos coloridos, eram balas de gomas. Entristecida comi as balas, mas passei a noite sonhando com os ovinhos coloridos.

No dia seguinte eu estava ardendo em febre, nem pude ir a escola e nada baixava minha febre, não tinha garganta inflamada, não tinha gripe, então de onde vinha a febre? Foi assim o dia todo. Nada passava pela minha garganta, não tinha fome, nem apetite, não queria nem brincar na rua. No dia seguinte minha avó me perguntou: tem alguma coisa que você está com vontade de comer? E eu respondi: sim! Quero ovinhos coloridos.

Minha avó foi comprar ovos de codorna e cozinhou-os em anilina e me trouxe.

Quando vi aqueles ovinhos coloridos, desatei a chorar. Não eram esses, eram aqueles que têm na padaria.

Meu avô me pegou no colo e me levou até a padaria e me disse: Mostre qual desses doces você quer. Eu apontei para as benditas amêndoas confeitadas com açúcar de diversas cores. Foi como um milagre. Depois que comi os confeitos, minha febre desapareceu, meu apetite voltou e a vontade de brincar na rua também.

Nunca me esqueci deste episódio. Se não fosse meu avô, eu poderia ter sido devorada pelas lombrigas. Até hoje tenho loucura pelas amêndoas coloridas e pavor de qualquer criatura que me lembre lombrigas.

Eu não sei o que acontecia comigo, parecia que o capeta me tentava e de vez em quando eu tinha uma recaída pela vida bandida e a sombra da serial killer infantil me atacava e lá ia eu aprontar mais uma.

Minha mãe tinha um armário cheio de produtos de limpeza e eu, muito curiosa, fuçava em tudo. Descobri um vidrinho engraçado e abri. Mal meu nariz chegou próximo e senti um cheiro que entrou pelo meu nariz e fez uma revolução no meu cérebro. Fiquei meio tonta e por alguns segundos sapateei como o Fred Astaire, sem nunca ter tido uma única aula de dança. Era o efeito do amoníaco demoníaco, pois ele me deu a péssima idéia de dar pra minha irmã cheirar, e ela só tinha 3 anos. Abri o vidro e disse: Olha que cheiroso! A pobrezinha sapateou, perdeu a respiração, estrebuchou e por fim perdeu a cor de tanto gritar. Minha mãe veio correndo e entre tentativas de respirar e chorar ao mesmo tempo, apontou pra minha mão que segurava o vidro. Nem preciso contar o resto... apanhei, fiquei de castigo e quando meu pai chegou, levei outra bronca.


Nem uma semana havia se passado e já que minha carreira bandida não dava certo resolvi deixar pra lá e me dedicar a vida infantil.

Eu tinha um conjunto de panelinhas de alumínio, igualzinha às panelas de verdade da minha mãe que até me ensinava a ariar (tradução: polir) as panelinhas com sabão em pedra e palha de aço até ficarem brilhando. Era estágio para dona de casa primorosa.

Peguei meu conjunto e chamei minha vizinha pra brincar de casinha.

Preparamos a mesa com a xícaras e colhemos azedinhas e erva doce pra fazer chá.

Lembrei-me do maravilhoso armário da minha mãe com embalagens diferentes e coloridas e peguei um litro com um líquido meio amarelado, perfeito para imitar o chá e coloquei na xícara e nos servimos. Minha vizinha, mais esperta fingiu que bebeu e eu realmente bebi. O gosto era horrível e não demorou muito tempo pra eu começar a passar mal e vomitar.

Claro que minha mãe veio me socorrer, mas estranhou que eu estava com um hálito estranho. Não demorou pra ela descobrir que eu tinha bebido meu precioso chá de alvejante a base de cloro... Deu hospital na cabeça!

Conclusão: já que a carreira de serial killer não dava certo, quem sabe de suicida profissional?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Capítulo IV



















Bom, como minha carreira de "bad girl" estava indo de mal a pior, resolvi desencanar e deixar a vida me levar...

Morávamos em uma casa grande, mas com poucos quartos. Acho que meu pai não previu um crescimento familiar tão repentino, então dormíamos todos no mesmo quarto, Eu o Ivan e a Márcia, meus pais no outro quarto e meus avós na parte de baixo da casa, que era tipo um porão, mas com quarto sala/cozinha e banheiro. Eu sempre ia dormir com minha avó.

Nas minhas mais doces lembranças, ainda a vejo ascendendo uma vela para rezarmos antes de dormir. O ambiente todo na penumbra, iluminado apenas pela luz da vela e ela me contando estórias pra dormir... Ah! como eu gostava desse momento. Eu sempre pedia a mesma estória que eu adorava. Era de uma pobre menina sofredora e que ganhava uma ovelha como amiga, mas o que ela não sabia é que a ovelha era uma fada madrinha. Ainda hoje tento me lembrar do resto da estória e não me conformo de como pude esquecer?

Foi minha avó quem me ensinou a rezar, que me levava para a igreja e eu gostava. Era o dia de colocar a roupa de domingo e ficar bonita, além do mais, eu poderia ficar brincando de esconder no confessionário, que era minha casinha perfeita, até o momento do padre me botar pra correr.

Aquele castelo enorme (era assim que eu interpretava a igreja: um castelo que eu gostava de visitar e imaginar que eu era a princesa), todo decorado com imagens, tapete vermelho, peças douradas e cheio de anjos. Tudo era lindo, menos um homem triste pregado numa cruz com semblante de dor.

Demorou pra eu entender o que ele estava fazendo ali e porque todo mundo beijava os pés dele.

Eu ficava ali parada esperando a vez da minha avó se ajoelhar, conversar com os pés dele e depois beijá-los. Eu queria imitá-la, mas não alcançava.

Sempre que passava na frente da igreja, tinha que me benzer, pois eu achava que o homem poderia ficar bravo e descer da cruz pra me pegar, mas eu não tinha medo dele, eu sentia muita pena...

Enfim, meu contato com a religião sempre foi muito confusa, Se aquele homem era bom, caridoso, exemplo a ser seguido, porque eu tinha medo dele? Medo de ser castigada, medo de ir pro inferno?

Então por via das dúvidas, rezava, pedia perdão toda vez que errava, mas não deixava de pedir e até discutir e fazer perguntas que só muito tempo depois, eu mesmas encontraria as respostas.

Neste meio tempo, eu ai crescendo e a vida ia acontecendo, adorava brincar de boneca, mas o que minha mãe não sabia, é que a boneca era minha irmã e quando eu enjoava, ia brincar com meu irmão, mas nunca dava muito certo, porque brigávamos muito... nossa! Como nós brigávamos, por tudo e por nada.

Minha mãe quase enlouquecia, éramos repreendidos, castigados, apanhávamos, mas não levávamos nada a sério. Como qualquer criança, não prevíamos as conseqüências e mal saíamos de um castigo, estávamos entrando em outro.

Naquele tempo tornei-me perita em ajoelhar em grãos. Milho, feijão, arroz, ervilha, soja, quirela, o que tivesse.

Pela minha classificação, na linha de sofrimento, o arroz e a quirela vinham em primeiro lugar, porque doíam não quando a gente ajoelhava, doía mais quando a gente saia, pois os grãos pequenos penetravam na pele e pra tirar era mais dolorido, já os grãos maiores, doíam no começo, mas depois a dor amenizava, ou a gente acostumava.

Não podíamos, nem em pensamento, rir enquanto estávamos levando bronca, ou no castigo, pois segundo meu pai, era a mais pura falta de respeito.

Aquele que ria enquanto estava sendo repreendido, apanhava pra aprender a ter vergonha, brio, respeito pelos mais velhos e consciência dos seus atos...

Naquela época isso era chamado de EDUCAÇÃO.

Mas, mesmo sabendo de tudo isso, o diabo atentava a gente e bastava meu pai chegar perto com cara de bravo que o ataque de riso começava.

Era educado baixar a cabeça para receber a reprimenda e ao término nos desculparmos, mas quem disse que a gente ficava só nisso?

Mal meu pai iniciava o discurso que a agonia se instalava e na tentativa de prender o riso, mordia os lábios, pensava em coisas tristes, imaginava o tamanho da surra se eu não conseguisse, mas bastava meu olhar cruzar com o do meu irmão e todo esforço ia por água abaixo... Eu ria, meu irmão ria e meu pai se enfezava e o couro comia.

Pois mal a dor da chibatada passava, as lágrimas nem tinham secado e as gargalhadas começavam. Claro que tudo muito abafadinho no travesseiro, ou escondido dentro do guarda roupa, pro meu pai não escutar, porque senão ai sim a coisa ia ficar séria.

Ser a filha mais velha, não é muito bom. A gente leva a culpa por tudo de errado que os mais novos fazem. Os filhos mais velhos devem dar o exemplo, devem ajudar aos pais na educação dos mais novos, devem ajudar no trabalho doméstico, devem ser estudiosos, devem ser obediente, jamais devem responder aos mais velhos, concluindo: Seja o mais exemplar possível, senão...

Tenho lembranças de pela manhã, ao acordar, prometia para mim mesma que naquele dia, eu iria fazer tudo tão certinho, que não levaria uma bronca sequer.

Eu me cobrava muito, me cobrava ser perfeita e hoje vejo que talvez fosse uma tentativa de voltar a ser o centro das atenções, mas o tiro sempre saia pela culatra e eu estava sempre às voltas com os castigos e as broncas.

Cobrar tanto de mim mesma teria um preço absurdo mais tarde. Cobranças que me transformariam numa outra pessoa, mas isso veremos mais adiante.

Eu sempre fui feliz de graça, felicidade de criança que não conhece as dores de alma, o peso da responsabilidade, a dor da perda, a preocupação, a dor do abandono, da saudade, as dores que a vida mostra pra gente.

Corria como se fosse um passarinho e em todos os meus sonhos eu não andava, eu voava e via tudo com tanta nitidez que parecia ser real.

Via as ruas lá de cima, as casas, as pessoas, as árvores e eu voava, voava, mas eu não tinha asas, eu tinha uma capa igual ao do Nacional Kid, meu super herói preferido.

Quando eu acordava, ficava com a sensação que eu realmente tinha passado a noite voando e essa sensação durava o dia todo e eu me deixava levar pela imaginação e só enfrentava a realidade quando tinha que fugir das chineladas da minha mãe e a fuga se dava na corrida mesmo.

Eu fui uma criança precoce. Aos 5 anos já lia e escrevia, nem sei como aprendi.

Costumava copiar os rótulos das latas de leite Ninho que minha irmã tomava e minha mãe tratou de convencer meu pai que eu deveria ir para a escola, mas a escola pública não aceitava antes do 7 anos, então fui para uma escola particular estudar com uma vizinha gordinha e fedida que gostava de me bater porque eu era magrinha, miúda, com cara de fome mesmo, mesmo arrumada eu continuava com cara de mal acabada. Usávamos um avental azul calcinha, cheio de babados com renda na bainha, meias brancas, saia rodada e blusa branca. Ah! E um laço enorme na cabeça que me fazia ficar parecendo um filhote de jumento com orelhas enormes, pois a fita deveria ser engomada e minha mãe mal tinha tempo de me arrumar. Cansei de ir para o prézinho Externato Arnaldo Barreto (era assim que se chamava a escola) com o avental do avesso, sem meia ou a camisa abotoada desencontrada. E minha vizinha gordinha, descia o braço em mim. Eu chorava o dia todo. A professora ficava irritada de tanto que eu chorava e me colocava de castigo. Eu só suportava a situação (como se eu tivesse escolha...) porque a mãe dela era dona de uma casa de esfihas e sempre me dava algumas, às vezes eram kibes ou pão sirio. Acho que era a minha cara de fome...

Eu realmente não era uma criança bonita. Eu era tão magra que nada me servia direito, meus dentes da frente começaram a cair e ai a coisa ficou preta de vez, mas eu não me importava, nem me dava conta de que era sempre a última a ser escolhida nas brincadeiras ou deixada de fora.

Criança sabe ser cruel e somente o que é belo atrai os olhos da maioria.

Quando chegou a hora de ir pra escola pública, ai sim eu me senti bem. Todos tínhamos cara de fome, usávamos os mesmos tipos de roupas. Na escola era o uniforme, saia azul marinho pregueada, camisa branca, meias brancas e conga azul marinho. Não existia outro tipo de tênis, nem marcas famosas pra ostentar.

Era impossível saber quem morava numa casa bonita ou quem morava na favela. Todos éramos iguais, os cadernos, os livros, o estojo, a régua, a lancheira, até o lanche era igual, ou tinha pão com ovo e ki-suco ou pão com qualquer coisa e ki-suco.

Depois, quando saíamos da escola, tirávamos o uniforme e vestíamos outro: calção, chinelo havaiana e camiseta, tanto fazia se era menino ou menina e nós éramos os donos da rua...

Nossos brinquedos eram criados na hora, pé de lata, elástico, guerra de mamona, peão, pipa, amarelinha com casca de banana, pega-pega, esconde-esconde, polícia e ladrão... como era bom ser criança! Como era bom brincar de ser livre!

A TV tinha hora pra ser ligada. Somente depois que tarefa de casa fosse feita e só por um curto espaço de tempo. A energia elétrica era cara demais pra ser gasta com TV.

A nossa era muito bonita, da marca Telefunken, que eu aprendi a ler toda orgulhosa porque era uma palavra estrangeira. Como não tínhamos dinheiro para uma TV colorida, meu pai colocava uma capa de plástico listada de cores diferentes e a gente assistia cheio de alegria.

Lembro que foi nesse período que assistíamos a filmes do Tarzan, que meu irmão adorava e sempre me convocava pra brincar com ele. Só ficava triste porque eu nunca era a Jane, ele sempre me fazia ficar com o papel da Chita, quando comecei a entender mais da vida, exigi fazer o papel da Jane.

Depois ele inventou que era policial da SWAT e vivia pulando do muro com uma sacola de feira nas costas, fingindo que era paraquedas...

A gente não precisava de brinquedos, a gente só precisava de imaginação.