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São Paulo, São Paulo, Brazil
Eu sou feliz! Acordo todos os dias e agradeço por estar viva, por ter saúde, amigos, família, amor e por ter me conhecido. Minhas pernas e meus pés me levam pra onde eu quiser, meus olhos conseguem captar todas as cores e brilhos do mundo,meus ouvidos conseguem ouvir as mais belas músicas e as piores palavras, sinto todos os perfumes e outros aromas nem tão agradáveis, mas sou grata a tudo! Sempre desconfiei de quem eu era, mas só fui apresentada aos 40 anos! Adorei conhecer a pessoa que eu sou e quero que você conheça também. Através das minhas postagens, você vai me conhecer aos poucos. Muito Prazer!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Capítulo V



Uma vez, estávamos fazendo uma expedição na Selva Amazônica (Traduzindo: explorando o terreno baldio no final da rua e que era território proibido pelas mães) e encontramos um poço abandonado e aberto. Quase caímos dentro dele ai tivemos a triste idéia de camuflá-lo com galhos e outras tranqueiras e todos os dias íamos lá pra ver se alguém tinha caído dentro. Certa vez escutamos os miados de um gato preso dentro do poço. Fiquei me sentindo culpada por muitos anos infantis (que duram somente alguns dias), imaginando a angústia do gatinho tentando sair. Um dia uma vizinha fofoqueira nos viu e contou pra minha mãe e tome chineladas.

Como eu já tinha 6 anos e meio e já estava na escola, tinha algumas responsabilidades. Eu podia fazer pequenas tarefas como ir até a padaria, no começo da rua, comprar pão e leite, ou no mercadinho do outro lado da calçada comprar mantimentos. Eu achava o máximo!

Certo dia, eu estava na fila do leite, com a garrafinha na mão (antigamente comprava-se leite em garrafas de vidro ou alumínio) e me deparei com uns confeitos coloridos, lindos! Eles pareciam ovinhos coloridos e eu acabei atiçando cruelmente as lombrigas com aquela visão dos deuses das guloseimas.

Voltei pra casa com o leite na mão e a boca cheia d’agua. Pedi dinheiro pra minha mãe e claro que a resposta foi “Não”. Pedi dinheiro pro meu avô e ele me deu umas moedinhas. Corri pra padaria e pedi no balcão: Moço, me dá tudo isso de ovinhos coloridos.

Ele colocou algumas balas no saquinho e eu corri pra casa pra saborear minhas guloseimas. Quando abri o saquinho, não eram os ovinhos coloridos, eram balas de gomas. Entristecida comi as balas, mas passei a noite sonhando com os ovinhos coloridos.

No dia seguinte eu estava ardendo em febre, nem pude ir a escola e nada baixava minha febre, não tinha garganta inflamada, não tinha gripe, então de onde vinha a febre? Foi assim o dia todo. Nada passava pela minha garganta, não tinha fome, nem apetite, não queria nem brincar na rua. No dia seguinte minha avó me perguntou: tem alguma coisa que você está com vontade de comer? E eu respondi: sim! Quero ovinhos coloridos.

Minha avó foi comprar ovos de codorna e cozinhou-os em anilina e me trouxe.

Quando vi aqueles ovinhos coloridos, desatei a chorar. Não eram esses, eram aqueles que têm na padaria.

Meu avô me pegou no colo e me levou até a padaria e me disse: Mostre qual desses doces você quer. Eu apontei para as benditas amêndoas confeitadas com açúcar de diversas cores. Foi como um milagre. Depois que comi os confeitos, minha febre desapareceu, meu apetite voltou e a vontade de brincar na rua também.

Nunca me esqueci deste episódio. Se não fosse meu avô, eu poderia ter sido devorada pelas lombrigas. Até hoje tenho loucura pelas amêndoas coloridas e pavor de qualquer criatura que me lembre lombrigas.

Eu não sei o que acontecia comigo, parecia que o capeta me tentava e de vez em quando eu tinha uma recaída pela vida bandida e a sombra da serial killer infantil me atacava e lá ia eu aprontar mais uma.

Minha mãe tinha um armário cheio de produtos de limpeza e eu, muito curiosa, fuçava em tudo. Descobri um vidrinho engraçado e abri. Mal meu nariz chegou próximo e senti um cheiro que entrou pelo meu nariz e fez uma revolução no meu cérebro. Fiquei meio tonta e por alguns segundos sapateei como o Fred Astaire, sem nunca ter tido uma única aula de dança. Era o efeito do amoníaco demoníaco, pois ele me deu a péssima idéia de dar pra minha irmã cheirar, e ela só tinha 3 anos. Abri o vidro e disse: Olha que cheiroso! A pobrezinha sapateou, perdeu a respiração, estrebuchou e por fim perdeu a cor de tanto gritar. Minha mãe veio correndo e entre tentativas de respirar e chorar ao mesmo tempo, apontou pra minha mão que segurava o vidro. Nem preciso contar o resto... apanhei, fiquei de castigo e quando meu pai chegou, levei outra bronca.


Nem uma semana havia se passado e já que minha carreira bandida não dava certo resolvi deixar pra lá e me dedicar a vida infantil.

Eu tinha um conjunto de panelinhas de alumínio, igualzinha às panelas de verdade da minha mãe que até me ensinava a ariar (tradução: polir) as panelinhas com sabão em pedra e palha de aço até ficarem brilhando. Era estágio para dona de casa primorosa.

Peguei meu conjunto e chamei minha vizinha pra brincar de casinha.

Preparamos a mesa com a xícaras e colhemos azedinhas e erva doce pra fazer chá.

Lembrei-me do maravilhoso armário da minha mãe com embalagens diferentes e coloridas e peguei um litro com um líquido meio amarelado, perfeito para imitar o chá e coloquei na xícara e nos servimos. Minha vizinha, mais esperta fingiu que bebeu e eu realmente bebi. O gosto era horrível e não demorou muito tempo pra eu começar a passar mal e vomitar.

Claro que minha mãe veio me socorrer, mas estranhou que eu estava com um hálito estranho. Não demorou pra ela descobrir que eu tinha bebido meu precioso chá de alvejante a base de cloro... Deu hospital na cabeça!

Conclusão: já que a carreira de serial killer não dava certo, quem sabe de suicida profissional?